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Comida: a louca espiral dos antibióticos animais - Grupo 4
https://outraspalavras.net/terraeantropoceno/comida-a-louca-espiral-dos-antibioticos-animais/
Resumo da Notícia:
O uso de antimicrobianos na produção animal gera uma discussão central sobre o bem-estar, a saúde pública e a sustentabilidade do setor agropecuário. A reportagem “Comida: a louca espiral dos antibióticos animais”, publicada pelo portal Outras Palavras, faz uma crítica contundente ao uso disseminado de antibióticos em sistemas intensivos de criação, sobretudo quando empregados de maneira profilática ou como promotores de crescimento. A matéria destaca que essa prática contribui significativamente para o avanço da resistência bacteriana, para a contaminação ambiental e para a perda de eficácia terapêutica de fármacos essenciais à medicina humana e veterinária. Nesse sentido, ao contrário de defender o uso contínuo de antimicrobianos, torna-se urgente questionar sua dependência estrutural, propondo uma transição ética e sustentável para modelos de criação mais saudáveis e resilientes.
Argumentação:
Podemos apontar cinco razões que contestam o uso de antimicrobianos como rotina nas criações animais e defendem a busca por alternativas mais seguras, éticas e sustentáveis:
1. O Uso de Antimicrobianos Compromete as Cinco Liberdades do Bem-Estar Animal
Embora os antibióticos sejam frequentemente associados à prevenção de doenças, seu uso contínuo mascara falhas estruturais de manejo, impedindo que os animais vivam de acordo com suas cinco liberdades fundamentais. A liberdade de desconforto e dor, por exemplo, é ameaçada quando os antimicrobianos substituem melhorias ambientais e sanitárias, mantendo os animais em condições insalubres que favorecem infecções recorrentes. O uso profilático prolongado reduz a sensibilidade das bactérias, levando a surtos de doenças mais agressivas e difíceis de tratar. Assim, em vez de garantir bem-estar, o uso indiscriminado de antibióticos perpetua sistemas que priorizam produtividade em detrimento da saúde e da liberdade comportamental dos animais.
2. Sistemas Intensivos Dependentes de Antimicrobianos São Intrinsecamente Inseguros
A dependência de antibióticos em sistemas de alta densidade populacional revela um modelo produtivo frágil, baseado em condições que favorecem o estresse, a disseminação de patógenos e o sofrimento animal. Em climas tropicais, como o brasileiro, essa vulnerabilidade é acentuada, mas a solução não deve ser farmacológica. Investir em biossegurança, ventilação, enriquecimento ambiental e manejo sanitário adequado reduz drasticamente a necessidade de antimicrobianos. A manutenção de práticas intensivas com suporte químico perpetua um ciclo vicioso de desequilíbrio sanitário e dependência medicamentosa — um modelo eticamente insustentável e ambientalmente oneroso.
3. Antimicrobianos como Promotores de Crescimento: Benefício Econômico, Custo Ético
O uso de antibióticos como aditivos zootécnicos, embora melhore temporariamente a conversão alimentar e o ganho de peso, é uma prática que prioriza lucro sobre ética e saúde pública. A alteração artificial da microbiota intestinal interfere na fisiologia natural do animal e cria um ambiente propício ao surgimento de superbactérias resistentes. Além disso, os resíduos de antimicrobianos em produtos de origem animal e no meio ambiente representam uma ameaça direta à saúde humana e aos ecossistemas. O argumento de eficiência produtiva perde validade diante dos danos cumulativos: aumento global da resistência bacteriana, contaminação de solos e águas e deterioração da confiança do consumidor.
4. Realidades Produtivas e Limites Éticos: a Ilusão da Necessidade
A alegação de que a criação sem antimicrobianos seria “inviável” ignora experiências bem-sucedidas de países que reduziram drasticamente seu uso por meio de políticas integradas de manejo, nutrição e bem-estar. A persistência no uso profilático reflete mais uma resistência institucional à mudança do que uma necessidade biológica. Ética e responsabilidade exigem reestruturação gradual dos sistemas produtivos — não a perpetuação de práticas que colocam em risco a saúde coletiva. Insistir no uso contínuo de antibióticos para compensar falhas estruturais é uma forma de negligência científica e moral, incompatível com uma produção animal moderna e consciente.
5. Sustentabilidade e Saúde Única (One Health)
O conceito de Saúde Única — que integra saúde animal, humana e ambiental — é comprometido pelo uso disseminado de antimicrobianos. A resistência bacteriana ultrapassa fronteiras entre espécies e ecossistemas, representando uma das maiores ameaças sanitárias globais. Cada dose desnecessária administrada a um animal de produção contribui para um passivo biológico de difícil reversão. Investir em prevenção natural, imunização, genética resistente, nutrição equilibrada e manejo de baixo estresse é o caminho mais seguro e ético para garantir bem-estar animal e sustentabilidade produtiva.
6. Legalidade x Realidade
As atuais formas de fiscalização, não dão conta de realmente fiscalizar todos os estabelecimentos e se realmente os antimicrobianos estão sendo utilizados de forma correta, como diz a lei. Dessa forma, mesmo que existam limites na legislação, é algo muito facilmente burlado que gera novamente os problemas citados acima.
7. Alternativas para o uso de antimicrobianos
Existem alternativas que não promovem a seleção de bactérias e ainda podem promover ganhos e tratamentos terapêuticos, como a utilização de fitoterápicos, ozonioterapia, que trazem alternativas mais responsáveis e que, a longo prazo, ajudam a diminuir o gasto público gerado pela alta quantidade de resistência bacteriana. Uma alternativa a utilização de antibióticos seria a adoção de medidas de higiene mais rígidas e uma redução da densidade de animais confinados no plantel.
Conclusão:
Com base na reportagem e no debate em sala, conclui-se que o uso de antimicrobianos na produção animal, embora historicamente associado à eficiência e à prevenção de doenças, tornou-se uma prática eticamente questionável e cientificamente arriscada. O verdadeiro desafio não é aperfeiçoar o uso, mas reduzir a dependência dessas substâncias, substituindo-as por medidas de manejo, biossegurança e nutrição que promovam o bem-estar genuíno dos animais.
O uso excessivo e contínuo compromete o futuro da saúde pública e ambiental, além de gerar um paradoxo moral: animais aparentemente “saudáveis”, mas mantidos em sistemas que só sobrevivem à base de medicamentos. Assim, o compromisso ético da produção moderna deve estar em prevenir a doença pela qualidade de vida, e não pela medicação constante.
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